Página 3 - Nosso Câmpus - Junho final

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Foto: Nayana Camoleze
Foto: Nayana Camoleze
DIREITOS HUMANOS
3
Nosso Câmpus
junho/2012
Estudantes da Unesp organizam passeata contra violência
Nayana Camoleze
Dia 16, aomeio dia, aconteceu
noCentrodacidadeaedição local
da “Marcha das Vadias”, passeata
promovida, em parceria, pelos
alunos da Unesp/Assis e o Neps
(Núcleo de Estudos e Pesquisas
sobre a Sexualidade).
Cerca de 200 alunos e demais
manifestantes participaram da
marcha que partiu da Prefeitura
e percorreu a Avenida Rui Bar-
bosa, até a Praça Arlindo Luz,
exibindo faixas em protesto
contra a violência.
Osalunosorganizaramamani-
festação pormeio de umperfil no
site de relacionamentos
Facebook
.
Umveículo doDepartamen-
to de Trânsito acompanhou
todo o percurso, garantindo
segurança aos manifestantes e
à população. Durante o trajeto,
o grupo foi parando pelo co-
mércio, fazendo intervenções,
com leituras sobremulheres que
foram brutalmente espancadas,
abusadas e assassinadas.
Bruna Baioni doNascimento,
estudante do 3º ano de Letras,
uma das organizadoras, expli-
cou que a “Marcha das Vadias”
é originalmente um movimento
iniciado em Toronto (Canadá),
cujo protesto foi em resposta ao
depoimento de um policial para
quem as mulheres da Universi-
dade de Toronto, para evitar os
estupros, não deveriam vestir-se
de forma vulgar. A partir daí a
proposta se espalhou para outros
países, chegando tambémaoBra-
sil, onde já ocorreram marchas
em Brasília, São Paulo, Pelotas,
Fortaleza, Recife, Florianópolis,
Londrina, Maringá e Assis.
“Marchamos porque o nosso
país ocupa o 7º lugar em homi-
cídios de mulheres; porque, a
cada 15 segundos, uma mulher
é agredida em algum canto do
País; porque três a cada dez
mulheres já foram agredidas;
porque nos últimos 30 anos,
mais de 91 mil mulheres foram
assassinadas”, justifica.
Ela reforça que umdos objeti-
vosétrazeramarchaàumacidade
do interior, pois geralmente essas
manifestações ocorrem com fre-
quência nas capitais.
“Registramosumgrandeapoio
dopúblicouniversitárioetambém
A passeata foi promovida em parceria entre alunos da Unesp/Assis e o Neps
Com os corpos pintados, os estudantes chamaram a atenção da população
da comunidade, por ser esta uma
luta de todos, para garantir os
direitos iguais não só àsmulheres,
mas também aos homens, aos
homossexuais, travestis, pessoas
de diferentes gêneros que sofrem
agressões, físicas ou verbais. Lutar
contra os preceitos machistas, a
violênciamoral,queéapiorforma,
difícil de ser combatida; por isso
a importância também do nome
do protesto “Marcha das Vadias”,
visto que o termo ‘vadia’ carrega
um peso enorme de valores mo-
rais”,observouVivianeMartinhão,
diretora doNeps.
“ONeps é uma ONG que tra-
balha com os direitos humanos
e a sexualidade e não poderia
deixar de apoiar essa marcha pela
igualdade dos direitos, não só da
mulher; é uma manifestação que
visa o respeito às escolhas, garan-
tindo os direitos de todos e pelo
fim da violência física e moral”,
acrescentou Juliana, doNeps.
“A marcha não é feminista,
não tem esse caráter, é uma luta
pela igualdade, luta não é só da
mulheres, porque hoje os homens
tambémsofremcomomachismo.
Quando, por exemplo, um jovem
“fica” com uma menina já sofre
pressão social para transar, sendo
então forçadopela sociedade a ser
macho, caso contrário, não é con-
siderado homem; é preciso uma
atençãomaiorvoltadaàeducação.
Na verdade, a luta deveria ser
também pela reeducação social”,
comentou Bruna.
“Nemtodos os homens enxer-
gam as mulheres dessa maneira,
como “objetos”, como um corpo
apenas, ou seios e bunda; é um
indivíduo com suas subjetivida-
des, que deve ser respeitado como
ser humano; é uma questão que
vai além do gênero, da crença, da
raça, garantindo que os direitos
não sejam violados”, considerou
Marcelo Ladeia, estudante do 3º
ano de Letras.
“Acredito que foi um movi-
mento importante para aUnesp/
Assis, não só com o objetivo
de explorar o tema, mas como
quebra de tabu, de limites, uma
lutapela liberdade, e apopulação
reagiu satisfatoriamente, prin-
cipalmente as mulheres, intera-
gindo, fotografando, aplaudindo
e sobretudo mantendo muito
respeito”, comentou Raissa de
Miranda, do 1º ano de História.
“Outro fator interessante é que
amanifestaçãonãosaiudaUnesp:
procurou-seoutroterritório,sendo
a comunidade convidada a aderir,
a participar. Trata-se de uma ação
de importância internacional, que
veiotambémparaoBrasilequeaté
então havia sido realizada apenas
em grandes capitais. Não vimos
nadaparecidoemcidadescujonú-
mero de habitantes é equivalente
aodeAssis,por issoconsideramos
a iniciativa satisfatória”, avaliou
Alan Rocha, do 2º ano de Letras.
Os alunos contaram ainda
que, para a realização da marcha,
o grupo fez na Faculdade, en-
contros visando a preparação do
evento comdebates sobre o tema,
exibição de filmes e confecção de
cartazes que, ao final da passeata,
foram expostos na praça e depois
espalhados pela cidade.
POR QUE MARCHAMOS?
Por que marchamos?
Segundo os alunos, a marcha questiona o modo
de vida baseado em conceitos binários, excludentes
e segregativos pautados na divisão de papéis
“reservados” para o sexo feminino emdetrimento do
masculino ou vice-versa, excluindo qualquer conexão
entre fatores anatômicos e comportamentais.
Marchamos para propor a igualdade de gêneros
entre o que se considera até hoje como o “feminino”
e o “masculino”. Marchamos contra a tolerância a
crimes sexuais,muitas vezes justificados eamenizados
por atitudes da mulher, julgada e condenada como
se houvesse pedido para ser estuprada”.
Marchamos como formadebuscar acriminalização
do estuprador, repudiando o julgamento da(ao)
estuprada/o, ‘além de exigir uma educação e
condições básicas de vida dignas para todos, pois
os estupradores (e outros criminosos) são fruto de
uma sociedade doente que, há muito tempo, vem
descurando da educação às traças.
Marchamos para repudiar qualquer tipo de
violência, sobretudo o estupro. Marchamos para
defender afiguradamulher como livrepara fazer suas
escolhas e exercer sua sexualidade, não aceitando
imposições provenientes de uma sociedademachista
que determina como ela deve se comportar. Lutamos
para a efetivação da Lei “Maria da Penha” por parte
da Delegacia da Mulher durante as 24 horas do dia e
por partedeoutros órgãos públicos comuma atuação
comprometida, profissional e humana.
Lutamos para protestar contra a utilização do
corpo feminino comomeramercadoria (expressa em
diversos veículos da mídia) e para questionar esse
padrão que expressa uma realidade distorcida da
anatomia feminina, submetendo outras expressões
de beleza.
Lutamos para propor o respeito a qualquer
expressão do amor e da sexualidade, livres de
julgamentos e de qualquer tipo de opressão.