Page 98 - A trajetória da Faculdade de Ciências e Letras de Assis nos desafios educacionais do ensino superior: entre o passado e o futuro

Faculdade de Ciências e Letras de Assis (1958-2008) 50 anos. Por que comemorar?
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dade de São Paulo, de onde provinham e com a qual continuavam
mantendo contato. Foram responsáveis pela vinda, para o Curso de
Psicologia de Assis, de muitos alunos que faziam cursinho prepara-
tório para os vestibulares na Capital.
Não bastassem todas essas condições favoráveis à criação de
um ambiente acolhedor e gregário, cabe mencionar que a psicolo-
gia, como disciplina científica, carrega consigo um objeto de estudo
que diz respeito ao contato, ao relacionamento e à proximidade com
o outro. Além disso, como mostram pesquisas da própria psicolo-
gia, em terras estranhas ou fora do próprio território, o ser humano
tende a ser mais solidário, tolerante e flexível.
Seja como for, mito ou não, o cotidiano do Curso de Psico-
logia sempre estimulou a aproximação entre alunos, entre os docen-
tes, entre esses dois segmentos, fazendo dos espaços onde funcio-
nou o curso, lugares densamente povoados e habitados. Marcava
as adjacências e o interior do prédio do Curso de Psicologia, certa
tagarelice, típica de concentrações humanas livres; a sonoridade
ruidosa e embaralhada de vozes emitidas ao mesmo tempo; a viva-
cidade exalada do prazer de estar junto; a animação das conversas
entabuladas em rodas formadas umas ao lado das outras em qual-
quer exíguo espaço capaz de comportar pessoas em pé que não se
cansavam de falar, sorrir, sussurrar e, às vezes, elevar o tom da voz
ou esbravejar.
Para adeptos de tradições acadêmicas que cultuam figuras
de austeridade, sobriedade, sisudez, seriedade e de compenetra-
ção solitária e silenciosa nos afazeres intelectuais, aquele cenário de
efusão conversacional e afetiva era visto como inadequado, pueril
e contraproducente. Sabe-se lá até que ponto isso contribuiu para
uma disposição à participação ativa na vida universitária, mas cria-
va, seguramente, uma base para o fortalecimento de laços de ami-
zade e de vínculos de confiança entre os acadêmicos da Psicologia,
favoráveis à promoção e defesa do exercício da liberdade e da auto-
nomia e à contestação do arbítrio e do autoritarismo. A exigência