Page 86 - A trajetória da Faculdade de Ciências e Letras de Assis nos desafios educacionais do ensino superior: entre o passado e o futuro

Faculdade de Ciências e Letras de Assis (1958-2008) 50 anos. Por que comemorar?
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moderna, que se impunha pela ostentação e exuberância do concre-
to, das ferragens e da vidraçaria, nós também, ao escavar a história
da psicologia, temos dificuldade para entender como ela foi parar
ali, naquela época. Afinal como era possível entender a presença da
Psicologia, naquela cidade comum, pacata e coronelista, comanda-
da por uma elite, à época, chamada de “bois de bota”, em alusão
aos fazendeiros e criadores de gado que detinham o poder, dividido
com o bispado, evidentemente, e, ainda, segundo se dizia, dividido
também com a “mãezinha”, uma conhecida e notável senhora dona
da principal casa da zona de meretrício?
Estamos nos reportando aos idos anos de 1966, quando foi
criado o Curso de Psicologia na então Faculdade de Filosofia, Ciên-
cias e Letras de Assis, unidade isolada de ensino superior, mantida
pelo Governo do Estado de São Paulo. O curso de Psicologia, junto
com o curso de Filosofia, veio algum tempo depois de seus anteces-
sores: o curso de Letras, instalado em 1959 - o pioneiro desbravador
dessas terras - e o curso de História, criado em 1963.
A criação dos cursos de Letras e de História é bastante com-
preensível numa época em que o governo do estado pretendia ex-
pandir o ensino superior público pelo interior, por meio de cursos
de licenciatura, destinados a formar professores para a rede de ensi-
no médio. O curso de Filosofia já era um tanto quanto contrastante
com as feições da cidade e o de Psicologia, seguramente, nada tinha
a ver com o lugar.
Deixemos claro, logo nesse início de conversa, que não te-
mos a pretensão de escrever um texto de feitio factual, com preci-
são de informação, baseado em dados, com lastro documental ou
mesmo com o respaldo de memórias daqueles que testemunharam
todos os acontecimentos que serão mencionados. Pretendemos ape-
nas registrar um depoimento de quem sequer esteve nas cenas pri-
márias desses acontecimentos; de quem, tão somente, ouviu histó-
rias e agora as conta, com certeza, aumentando alguns pontos, como
se diz no ditado popular.