Page 40 - A trajetória da Faculdade de Ciências e Letras de Assis nos desafios educacionais do ensino superior: entre o passado e o futuro

Faculdade de Ciências e Letras de Assis (1958-2008) 50 anos. Por que comemorar?
40
predomina na universidade mundialmente, e na universidade bra-
sileira também. Não é à toa que se nota, na própria UNESP, um
desequilíbrio entre os campi commaior ou menor número de cursos
tecnocientíficos. A existência ou não de cursos dessa natureza cons-
titui, inegavelmente, condição para o maior prestígio e valorização
de cada Faculdade. Até mesmo as ciências básicas – Matemática,
Física, Química, Biologia – já caminham rapidamente nessa dire-
ção. Mas as ciências humanas, paradoxalmente, que são com fre-
quência vistas como refratárias a tal tendência, teriam mantido sua
característica original? Creio que não. Ao contrário, têm sido tam-
bém tecnificadas no seu próprio modo de produção, organização e
difusão do conhecimento, embora isso não seja admitido por muitos
dos seus profissionais.
Um
campus
como o nosso, criado segundo o modelo clássi-
co da repartição dos saberes das Humanidades, Letras e Ciências,
necessita repensar-se institucionalmente considerando as transfor-
mações no universo dos conhecimentos e as mudanças sociais e cul-
turais aceleradas do tempo atual. Aferrar-se a concepções obsoletas,
quando já praticamos outras formas de ensino e pesquisa, ou agir de-
fensivamente não são atitudes comprometidas com o futuro. Seria o
caso de pensarmos numa nova ecologia de saberes, transdisciplinar
e pluriuniversitária, no interior da qual as Humanidades, as ciên-
cias e as tecnologias fossem todas concebidas já de princípio como
conhecimentos humanos, de acordo com a proposta de Boaventura
S. Santos? Seria ainda o caso de aceitarmos decididamente a idéia
de Universidade de massa, sem abrir mão do rigor e da qualidade
que julgamos ter alcançado até agora? Que profissionais queremos,
podemos e devemos formar para a sociedade atual? Como interagir
com os outros lugares de produção, difusão e circulação dos conhe-
cimentos, realimentando o lócus privilegiado do rigor científico e
da reflexão crítica que caracterizam a Universidade? Como romper
com o elitismo sem incorrer no rebaixamento intelectual?
Tendo chegado aos 50 anos, muito embora não tenha o peso