na apresentação dos atores mambembes, agora imobilizados diante
do enorme cortejo. Há uma disputa entre encenações (a dos atores
ambulantes e a do gigantesco grupo de penitentes), sendo o corte-
jo muito mais poderoso e alimentador do medo. Essa passagem do
filme tem por resultado uma paisagem de terra arrasada, fumaça e
vazio – o contrário da função vitalizadora da Arte. Qual das encena-
ções é assumida pelo filme? Somente seu desenvolvimento respon-
derá.
Numa taberna, em seguida, ocorre diálogo entre mercadores
sobre a peste e seus negócios e Joff, que ali bebia, fica sob a ameaça
de Plög (este o confunde com Jonas Skat, o outro ator, que seduzira
–
e fora seduzido por - Lisa, mulher do ferreiro), desdobrada em ato
de humilhação, comandado pelo falso monge Raval, obrigando-o a
dançar como se fosse um urso. Joff sente muito medo, dança sobre
fogo, cai entre porcos, está prestes a ser ferido ou morto quando o
escudeiro Jöns o salva, e ainda marca a face de Raval. Essa seqüên-
cia traz o artista fazendo o que não quer (outra modalidade de en-
cenação, muito sofrida), perdendo sua capacidade própria, por im-
posição da força. Ao mesmo tempo, ela aproxima de vez os trajetos
dos artistas ambulantes e da dupla Antonius/Jöns, uma vez que o
último impede o assassinato de Joff.
Longe dali, o cavaleiro (com seu tabuleiro de xadrez) vê Mia
brincando com o neném, ensinando-o a andar, outro ângulo daque-
la visão que Joff tivera (Maria e seu Filho). Ele se aproxima amis-
tosamente daqueles dois, conversa com a mulher, elogia a robustez
do menino. Joff chega da taberna, assustado e gemendo, narra bre-
vemente o sucedido, mas logo se põe a brincar com o filhinho. Jöns
também chega, com a companheira; Joff o identifica como seu sal-
vador. Há um clima de afeto e confraternização entre todos, senti-
mento muito diferente das violências observadas no cortejo e na ta-
berna. Mia oferece morangos e leite para Antonius, dons humildes,
mas frutos da Natureza e da generosidade dos que pouco têm. Joff
canta e toca seu instrumento (uma espécie de alaúde), sua mulher
192
Faculdade de Ciências e Letras de Assis (1958-2008) 50 anos. Por que comemorar?
