Page 191 - A trajetória da Faculdade de Ciências e Letras de Assis nos desafios educacionais do ensino superior: entre o passado e o futuro

Antonius e Jöns chegam a uma igreja, onde um pintor rea-
liza mural sobre a Morte. Esse artista fala para o escudeiro sobre a
peste, o ouvinte sente medo, mas nega. O cavaleiro se dirige ao con-
fessionário, diz não ter fé, registra o silêncio de Deus, fala do jogo
com a Morte e de uma estratégia que pensou usar para derrotá-la. O
confessor se identifica como a Morte, esvaziando, portanto, aquela
possibilidade do adversário.
É nesse mundo empesteado que Jöns surpreende, pou-
co depois, um homem roubando pertences dos mortos e tentando
violentar sexualmente uma moça. O escudeiro defende a última e
identifica o ladrão como o estudante de Teologia Raval (agora, falso
monge) que convenceu Antonius a ir para as Cruzadas. Jöns convi-
da a moça a ficar com ele, depois de lhe dizer que poderia possuí-la
pela força, mas que não gosta desse tipo de atitude. Percebe-se que
o personagem não pretende ser apenas um romântico defensor de
donzelas indefesas, deseja aquela mulher – tenta beijá-la -, embora
também tenha impedido a violência do outro contra ela. O desejo
assume uma dignidade humana que não se confunde com a ideali-
zação assexuada de comportamentos.
Os atores mambembes fazem uma apresentação pública,
um espectador atira um objeto (fruto ou legume podre, ovo?) em
Jonas Skat, que se retira da cena para, em seguida, estabelecer um
jogo de sedução com uma bonita mulher, Lisa, casada com o ferrei-
ro Plög. Essa sedução evoca cenas cômicas de Cinema mudo – ges-
ticulação, expressões faciais, a sequência de vinho, beijos e corpos
dos amantes atrás de um arbusto. Mas o espetáculo desse grupo é
efetivamente interrompido por um enorme cortejo de auto-flage-
ladores, aleijados e outros penitentes, com um som altíssimo, mais
um pregador que anuncia a próxima morte de todos: “Vocês sabem
que estas podem ser suas últimas horas?”
Esse orador parece falar com prazer diante do sofrimento
alheio, prazer possível diante do monopólio do sagrado que ele pre-
tende exercer. O tema da morte figurara de maneira muito mais leve
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Faculdade de Ciências e Letras de Assis (1958-2008) 50 anos. Por que comemorar?