Page 189 - A trajetória da Faculdade de Ciências e Letras de Assis nos desafios educacionais do ensino superior: entre o passado e o futuro

como se a vida fosse jogo.
De repente, a Morte surge e se identifica. Block lhe diz, com
serenidade: “Minha carne está com medo. Mas eu não estou”. É
uma fala significativa para situar o eu do homem além da carne. E é
esse eu, semmedo, que desafia a Morte para uma partida de xadrez.
Antonius demonstra ousadia e esperança. E a Morte, vaidosa joga-
dora, aceita o desafio, mesmo sabendo do inevitável desfecho – sua
vitória – e até trapaceando para abreviar-lhe a chegada, surpreen-
dente fragilidade numa onipotência. O jogo se dá ao longo do filme,
junto com as ações de outros personagens.
Um tema central de
O sétimo selo
,
portanto, é a luta pela vida
e a vontade de infinito, a carne e seu além. E Block aceita contar
consigo mesmo, uma vez que Deus é tão incerto.
Antonius e Jöns se mantêm em cena durante quase todo
o tempo. Existe uma diferença hierárquica entre eles, que o filme
sublinha em gestos tão simples quanto o primeiro acordar o outro
com um cutucão do pé, e o escudeiro reagir com careta quase animal
àquela atitude. O cavaleiro vive enredado em sua refinada angús-
tia metafísica, o escudeiro se situa num plano muito mais imediato
da sobrevivência, menos povoado por aquelas dúvidas do superior,
embora não se mantenha alheio a medos. E Jöns canta temas fesce-
ninos e provocativos, alusivos também a Deus e à morte, que, visi-
velmente, irritam o outro. Suas caretas sugerem ainda potenciais de
crítica e revolta em relação àquele cavaleiro.
Nessa etapa inicial da narração, a dupla cruza com a carroça
onde estão os atores mambembes: Joff (interpretado por Nils Po-
ppe), Mia (papel de Bibi Andersson), seu filhinho Mikael e Jonas
Skat (desempenho de Erik Strandmark). Joff acorda, dá cambalho-
tas, fala para um cavalo: “As pessoas não parecem interessadas em
Arte.”
Diante dos papéis que a Arte assume ao longo do filme,
como comentarista e visionária, é uma fala auto-reflexiva e de gran-
de importância, tanto pelos referenciais (povo e Arte) quanto pelo
189
Faculdade de Ciências e Letras de Assis (1958-2008) 50 anos. Por que comemorar?