parecia, naqueles fotogramas, apenas fantasia enigmática revela-se,
no filme, uma realidade complexa, objeto de densa reflexão e atenta
a relações sociais
3
.
Bergman apresenta a Idade Média européia (os estados na-
cionais não existiam como os conhecemos a partir da modernidade),
nesse filme, com cuidado informativo (visual, sonoro), em termos
de sonhos e medos dos homens e mulheres: entre as promessas do
paraíso cristão e a experiência do inferno terrestre, a guerra e a pes-
te. Um ardil de O sétimo selo é também dialogar, muito sutilmente,
com o presente de sua realização (Guerra Fria): entre as promessas
da modernidade técnica e a experiência do inferno terrestre, a ame-
aça atômica, tragicamente testada em seres humanos de Hiroshima
e Nagasaki, uma década antes. Mas esse laço é discreto, o filme pre-
serva a historicidade referida com extremo cuidado, num alto nível
de informação sobre o medievo e indagando a respeito de Deus num
mundo sem Deus.
A narração se inicia com um retorno frustrado: o cavaleiro
Block e seu escudeiro Jöns (o ator Gunnar Björnstrand) voltam das
Cruzadas, com aspecto abatido e triste, o avesso de aventura, hero-
ísmo e salvação espiritual. A bonita paisagem litorânea da Suécia,
fotografada primorosamente por Gunnar Fischer, evidencia gran-
deza do mundo (do sol entre nuvens à águia em vôo e à imensidão
do mar), tão indiferente quanto Deus às dores cotidianas daqueles
homens. Block reza, sem fervor na expressão facial, quase burocra-
ticamente, como se falasse sozinho – a forte conclusão de Madale-
na, pouco antes de se matar, no romance de Graciliano Ramos São
Bernardo (1934), depois muito bem filmado por Leon Hirszman
(1971).
Junto de Antonius, um tabuleiro de xadrez está com as pe-
ças arrumadas, como se ele estivesse sempre pronto para o jogo –
3
ARMANDO, Carlos.
O planeta Bergman
.
Belo Horizonte: Oficina de Livros,
1988.
BJÖRKMAN, Stig.
O cinema segundo Bergman
-
Entrevistas concedidas a Stig
Björkman, Torsten Manns e Jonas Sima. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1977.
188
Faculdade de Ciências e Letras de Assis (1958-2008) 50 anos. Por que comemorar?
