Page 178 - A trajetória da Faculdade de Ciências e Letras de Assis nos desafios educacionais do ensino superior: entre o passado e o futuro

Faculdade de Ciências e Letras de Assis (1958-2008) 50 anos. Por que comemorar?
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ousavam propor que se suspendesse o caminho óbvio da
influência
e que, em seu lugar, nos ocupássemos do troca-troca literário. Em
vez de nos ensinarem essas literaturas como se fossem padrões ir-
retocáveis de comportamento artístico, cujos produtos não tinham
titubeado jamais em seu trajeto rumo à qualidade do texto final, eles
nos ensinaram a permeabilidade do sistema literário. Começaram a
ensinar, segundo Antonio Candido, as
homologias temáticas e estru-
turais
(
AC - “Prefácio” a
Byron no Brasil
.
SP: Ática, 1975. p. 9), a
ver como circulava o produto estrangeiro aqui dentro, independen-
te de sua qualidade inicial. Com isso, libertávamo-nos da a
ngústia
da influência
que sempre nos colocava em posição de débito perma-
nente; com isso, deixávamos de lado uma pedagogia de supremacia
etnocêntrica e abríamos caminho para a mobilidade e a alternância
de poderes literários. Não era só Chateaubriand que influenciava
Alencar, mas podia ser que nossos índios tivessem feito bonito tam-
bém em Rouen, como, de fato, fizeram, apesar do frio que matou
muitos deles, na beira daquele Sena enregelado, em pleno outono de
1550.
Graças a essa guinada, graças a esse deslocamento de pers-
pectiva, que parecia congelada por um historicismo conveniente a
distribuidores de miçangas, deixamos de ser meros receptores para
nos tornarmos agentes de um fazer literário mais amplo, sem ne-
nhum intuito equivocado de revanche.
Foi a partir desse descongelamento - no qual, mais uma vez,
a atuação de Antonio Candido foi decisiva, senão fundacional - que
nos desviamos da ordem herdada para entrarmos no reino da busca
incerta; que abandonamos a certeza confortável em troca da dúvida,
que incomoda, desloca, empurra e leva adiante.
Na origem dessa mudança de paradigma cumpre recuperar
alguns nomes pioneiros, que se dedicaram a essa tarefa de investigar
o trânsito literário sem a tirania do modelo soberano, que assombra
o quintal do vizinho pobre. Nomes como o de Onédia de Carvalho
Barbosa, cuja pesquisa sobre as traduções byronianas no Brasil re-