Page 177 - A trajetória da Faculdade de Ciências e Letras de Assis nos desafios educacionais do ensino superior: entre o passado e o futuro

Faculdade de Ciências e Letras de Assis (1958-2008) 50 anos. Por que comemorar?
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ajudou a criar: o de se pensar o fenômeno literário brasileiro em nos-
sos termos e não dependurados, de forma parasitária, em absorven-
tes teorizações externas. Lembro-me, nesse sentido, de um projeto
que abortou, talvez por absoluta precipitação e ingenuidade: a inde-
xação do famoso “Suplemento Literário” de
O Estado de S. Paulo
,
que só seria realizada anos mais tarde. Mas valeu a tentativa.
Na esteira desse aprendizado, hoje se vê isso graças à distân-
cia crítica, brotaram várias outras iniciativas, sempre orientadas por
uma inversão de expectativa, por um descentramento de perspecti-
va, por um deslocamento do que hoje se conhece como o “lugar de
onde se fala”. Duas dessas iniciativas, pioneiras no gênero, são os
estudos de Byron e de Musset no Brasil.
Visto em retrospecto, acho que uma das viradas mais signi-
ficativas foi exatamente essa: a de conduzirmos o estudo da litera-
tura, neste país, não mais em termos de projeção externa sobre nós,
mas, de forma recíproca. Isto é, como é que se realizou o contacto
entre nossa produção e a do estrangeiro. Ou ainda: o que resulta da
fricção entre duas culturas, sem que a hierarquização de valores se
intrometa de forma obsessiva nesse cotejo. Não fosse eu de Letras,
até perguntaria de forma antropológica: o contacto entre duas cul-
turas supõe, de modo necessário, a subalternização de uma à outra?
Meses atrás, presidindo uma banca para ProfessorTitular na minha
universidade, recuperei um pouco a mudança de paradigma a que
venho presenciando, desde que entrei, oficialmente, nesta Casa, em
fevereiro de 1961.
Como isso tem sido uma das preocupações recorrentes no
meu ofício atual, não me pejo de repetir parte daquele discurso, o
que faço agora.
Ao contrário da minha geração, os colegas mais jovens têm
tido a sorte de terem sido orientados por um princípio pedagógico
que inverte, em parte, a mão do ensino. Em vez de ensinarem tão
somente as excelências das literaturas européias, os novos docentes,
plantados em salas de aula a partir da segunda metade dos anos ‘60,