Page 176 - A trajetória da Faculdade de Ciências e Letras de Assis nos desafios educacionais do ensino superior: entre o passado e o futuro

Faculdade de Ciências e Letras de Assis (1958-2008) 50 anos. Por que comemorar?
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poundiano. De forma tímida, mas firme, estão lá, no
texto de Décio Pignatari, essas primeiras cutiladas, junto com o re-
conhecimento de que a tradição mais recente de nossa poesia exigia
que lado a lado fossem colocados Drummond e João Cabral.
A abertura de um espaço físico novo e inusitado, onde ne-
nhuma raiz acadêmica se fincara antes, deve ter servido como im-
pulso remoto para uma experiência pedagógica, que soube conciliar
a tradição histórica com novas exigências críticas. Bem distante dos
centros urbanos predominantes, onde essa criação crítica já dava
mostras de vitalidade, Assis representava uma guinada para dentro,
para nós mesmos, sem nenhuma xenofobia, no entanto. Um mo-
vimento pendular se fazia, contemplando ora a literatura a partir
de um ponto de vista brasileiro, ora a partir da necessidade de uma
informação vinda do exterior. Exemplo claro dessa atitude está nos
[
dez] primeiros números da sua
Revista de Letras
,
que nunca dei-
xou de atender aos dois lados do balcão. E, um dia, quando for fei-
ta uma análise demorada (e necessária) de sua contribuição crítica
talvez encontrem nela um indicativo seguro dessa pendularidade,
na qual já se mostrava o “vai” ou o “vem” que nos interessa, isto é,
o estudo literário feito dentro de uma perspectiva não mais “euro-
americana”, segundo designação de Jorge de Sena, em artigo que
não esconde muito bem sua intenção de funcionar como espécie de
pauta para a nascente
Revista de Letras
.
*
Porque quando nos deparamos com ensaios como “Mark
Twain e Monteiro Lobato: um estudo comparativo” de Cassiano
Nunes ou quando lemos “Estrutura e função do
Caramuru
de An-
tonio Candido ou, ainda, quando somos apresentados a “The five
faces of love in Jorge Amado’s Bahian novels” de Gregory Rabassa
não há dúvida de que se busca uma inserção internacional a partir
desta comarca assisense.
Pois foi esse um dos benefícios indiretos que esta Faculdade
*
Ver de Jorge de Sena: “Ensaio de uma tipologia literária”.
Revista de Letras,
1, 1960.
pp. 201-236.