Page 140 - A trajetória da Faculdade de Ciências e Letras de Assis nos desafios educacionais do ensino superior: entre o passado e o futuro

Faculdade de Ciências e Letras de Assis (1958-2008) 50 anos. Por que comemorar?
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tes do rígido cenário de repressão e da censura que existia nos gran-
des centros universitários do país. Assis não era nunca uma fuga
intelectual e política, mas não deixava – para o bem ou para o mal
de nos preservar das tensões, ameaças de violência e angústias re-
presentados pelos “anos de chumbo” da ditadura militar.
Perfil intelectual e político do grupo fundador
No plano mais geral, havia uma forte identidade política en-
tre os colegas. Embora fossem distintas as formas de engajamento
pessoal na luta contra a ditadura militar, todos éramos de esquerda.
Também é inegável que o grupo fundador nutria especial simpa-
tia pelo marxismo. Simpatia, fique ressaltado, que não se explicava
pelos cursos frequentados na Rua Maria Antônia, pois Marx ainda
não era objeto das disciplinas da graduação. Além do mais, fora al-
guns dos assistentes, nenhum docente do DF da USP se destacava
por suas convicções marxistas. Apenas na Sociologia se lecionava
a obra de Marx. Chegávamos a Marx fundamentalmente pelo en-
gajamento no movimento estudantil, pelos debates políticos e por
grupos de estudos informais criados nos anos 1960. Nossos mestres
estudavam
O Capital
,
mas Marx – raramente citado nas aulas – não
era um eminente filósofo para ser ensinado, de forma sistemática,
na graduação, como eram Platão, Descartes, Spinoza, Kant, Hegel,
Husserl, Merleau-Ponty e outros.
A rigor, nesse tempo, “ser de esquerda” implicava teorica-
mente a adesão ou um namoro explícito com o marxismo. Hoje, ob-
servando as inúmeras deserções de intelectuais outrora socialistas,
fica evidenciado que naqueles tempos a filiação ao marxismo era
quase uma opção conveniente ou – para ser mais duro – uma op-
ção “da moda”; em certa medida, o marxismo conferia prestígio nos
meios culturais nacionais e internacionais. Como se sabe, embora
politicamente derrotado, o pensamento de esquerda, em plena dita-
dura, não deixava de ter hegemonia na cultura política brasileira.
Simpáticos ao marxismo, no DF de Assis, fraternalmente