Page 139 - A trajetória da Faculdade de Ciências e Letras de Assis nos desafios educacionais do ensino superior: entre o passado e o futuro

Faculdade de Ciências e Letras de Assis (1958-2008) 50 anos. Por que comemorar?
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Nossos mestres da USP eram por nós respeitados, mas, en-
tendo que, rigorosamente, não chegava a existir tutela ou subordi-
nação intelectual nossa em relação a eles. Como a maioria de nós não
frequentava os programas de pós-graduação, não eram eles nossos
orientadores formais. Geograficamente também estávamos distan-
tes deles. De outro lado, a experiência do engajamento político nos
anos 1960 – e particularmente a chamada “revolução de 1968”, que
marcou nossa geração – colocava-nos política e ideologicamente à
esquerda de nossos mestres.
Embora influenciados pelo professores da USP, tínhamos,
no Departamento de Filosofia de Assis, uma significativa margem
de liberdade e autonomia intelectual para a organização dos cursos e
de nossas atividades de pesquisa.Tudo dependia de nós mesmos, de
nossas iniciativas, pois não existiam tutores a ensinar ou iluminar
nossos caminhos. Certamente, a liberdade intelectual não era plena;
nem tudo era possível ensinar ou debater; afinal, vivíamos em plena
ditadura militar que, especialmente após a vigência do semi-fascista
AI 5 (dezembro de 1968), ameaçava nossas cabeças e nossos corpos.
Nossa liberdade intelectual também se tornava possível pelo
fato de inexistir – nestes primeiros tempos – qualquer forma de hie-
rarquia entre nós. A burocracia da Faculdade não pesava nem estava
muito presente entre nós. Por exemplo, a chefia apenas funcionava
como representação externa do Departamento, pois, internamen-
te, formávamos um colegiado bastante democratizado. Sem chefes
e trabalhos burocráticos que nos tolhessem, podíamos livremente
trabalhar e ter um tempo maior para a pesquisa e preparação dos
cursos. Sem pretender ser saudosista, diria que naquele momento
era bastante prazerosa a experiência de ensinar num Departamento
que apenas dependia de nossas iniciativas.
Contudo, isso não significava que, em plena ditadura mili-
tar, fôssemos irresponsáveis ou, como se dizia à época, “alienados”
politicamente; o fato é que, objetivamente, numa cidade do interior
do Estado de São Paulo, estávamos, em certa medida, mais distan-