Page 118 - A trajetória da Faculdade de Ciências e Letras de Assis nos desafios educacionais do ensino superior: entre o passado e o futuro

Faculdade de Ciências e Letras de Assis (1958-2008) 50 anos. Por que comemorar?
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Liberali Bellotto e, naturalmente o Nilo Odália. A solidariedade
amiga e o coleguismo fizeram-me logo substituir a tensão da res-
ponsabilidade pela alegria de continuar a aprendizagem e transmiti-
la. Os alunos das primeiras turmas, pouco numerosas, eram de pri-
meiríssima qualidade e sua seriedade e caráter amistoso acabaram
por me dar autoconfiança e prazer em trabalhar com eles.
A conjuntura política em que todas essas atividades profis-
sionais e humanas ocorreram deve ser mencionada com ênfase. A
turma de estudantes da USP que se formou em 1964 sentiu de for-
ma acentuada o golpe de Estado que inauguraria a Ditadura Mili-
tar. Nosso Patrono Mário Schemberg foi impedido de participar de
nossa Colação de Grau. Foi substituído pelo ainda não cassado Flo-
restan Fernandes. Seu discurso foi publicado na Revista Civilização
Brasileira e passou a representar um guia crítico que embasou nossa
indignação política de atividade docente e pesquisa por toda a vida.
A sociedade e a Universidade brasileira sofreram as mais cruéis ar-
bitrariedades. Nessa conjuntura, a Universidade era um reduto de
pensamento crítico e de não aceitação permanente do autoritarismo
inaceitável no Brasil. Embora nunca tenha me filiado a partido po-
lítico, defendi sempre a liberdade daqueles que se opunham, como
eu, da forma que escolhessem, militantes ou não.
Os primeiros anos de Assis foram muito árduos. Salário
dava apertado para as despesas de casa. Eu estudava o quanto podia,
Claudete cuidava de nossos filhos Josette (dois anos incompletos),
Ricardo (nascido em março de 1965) e da casa. Seu desejo de reto-
mar os estudos aguardaria alguns anos. Sua firmeza foi fundamen-
tal.
Os primeiros anos da Faculdade foram de enorme apren-
dizagem. Leituras, discussões, participação de inúmeras ativida-
des. O Clube de Cinema, com sessões e apresentações periódicas
deram-me novas dimensões de vida. Logo me fizeram apresentar
o filme “A Letra escarlate” (traduzi “escarlet” por vermelho e fui
discretamente corrigido). O Clube de Cinema assumiria uma di-