Faculdade de Ciências e Letras de Assis (1958-2008) 50 anos. Por que comemorar?
104
disciplinas do núcleo básico do curso, o aluno ingressa nas ênfases
que, grosso modo, representam um afunilamento para especializa-
ção.
Vivemos um tempo em que os heróis morreram de overdo-
se, os inimigos se instalaram no poder e as ideologias se evapora-
ram, como disse Cazuza. Os cursos universitários ou a psicologia
não são mais vistos como ferramentas para se mudar o mundo, mas
como ferramentas para se instalar nele e tirar o máximo proveito
sob a forma de um salário ou de pagamentos de clientes por atendi-
mentos previamente agendados. Adeus revolução, o sonho acabou.
Resta flutuar à deriva no turbilhão de forças e correntes que arras-
tam a vida e chamam cada vez mais para a festa maníaca do mercado
e do consumo. O presente se torna avassalador, impondo um ritmo
de trabalho extremamente acelerado. O antigo professor que po-
deria ser visto andando pausadamente pelo saguão de um prédio,
absorvido pela leitura de livro, ou um aluno sentado à sombra de
uma árvore, também embevecido com uma leitura ou com um me-
lódico e sonolento som de violão, cede lugar para personagens que
deslizam sem parar pelos espaços, num constante vai e vem, sem se
deter em lugar algum. Não há mais tempo sequer para uma leitura
atenta, refletida e pausada. Consome-se rapidamente xerox de par-
tes de livros, como se consomem outras coisas quaisquer. A lógica é
a mesma.
Aagenda, tão presente na vida de professores e alunos, é sinal
dos novos tempos que, ao intensificar a aceleração, produz desterri-
torializações, volatilidade e lança todos numa agitação estonteante
que faz da mobilidade uma estratégia de controle e aprisionamento.
A Internet pode ser tomada como emblema dessa condição onde
reina a ambigüidade: tudo e todos estão ao alcance, mas fica-se só; a
mente percorre o mundo e o corpo permanece paralisado; os acon-
tecimentos se sucedem rapidamente e nada muda; há um excesso de
ofertas de satisfação de todo tipo e o homem se sente cada vez mais
carente e frustrado; uns trabalham demais e outros não têm empre-
