reforça a imagem de um locutor imparcial e, conseqüentemente, de uma entrevista
pautada pela busca de respostas que realmente interessam ao telespectador, mesmo que
sejam espinhosas para o entrevistado.
A fim de se sair da situação instaurada pelo mediador do programa, Serra retoma
inicialmente, por meio de uma incisa metadiscursiva, um tópico desenvolvido em
enunciados anteriores (
como eu dizia
), procedendo, simultaneamente, à estratégia da
repetição para aproveitar o momento específico da entrevista para narrar parte de seus
feitos como homem público, trazendo à memória dos telespectadores um conhecimento
armazenado em determinada cognição. Simultaneamente apresenta-se, já no primeiro
trecho do programa, como um político experiente, imagem associada, nos termos
propostos por Charaudeau (2006), ao
ethos
de “competência” (
nos quatro anos
anteriores tinha sido ministro da saúde um trabalho bastante estressante né?
).
Na seqüência, Serra passa a construir um discurso de justificação, por meio de
uma argumentação cujas premissas baseiam-se em fatos (
mas o fato é que chegando tive
muitas demandas nesse sentido muitos estímulos...
). Essa trilha argumentativa
estabelece claramente, nos termos adotados por Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996),
um argumento pragmático, o qual une um fenômeno a suas conseqüências ou a suas
causas (sendo “
as demandas
” a causa e “
a candidatura
” o efeito).
Nesse processo, o locutor articula duas vozes que são apresentadas, inicialmente,
de modo bastante universalizado, marcado por um relevo prosódico (
MUItas demandas
nesse sentido
). Segue-se o processo de rotulação da origem de tais “demandas”: em
primeiro lugar, essas vozes são atribuídas à população, de uma maneira geral,
ressaltadas pelo emprego do relevo positivo de proeminência prosódica e pela repetição
(
muitos esTÍmulos estímulo da população
) e, em um segundo momento, ao seu partido
político, o PSDB (
estímulo do partido
). Podemos afirmar, com base em Fairclough
(2001), que os recursos à polifonia e à intertextualidade no excerto em questão
denunciam a tentativa, por parte de José Serra, de apresentar hegemonicamente a sua
candidatura como algo consensual, acima de seus interesses pessoais.
Por meio desses enunciados, o candidato constrói para si a imagem de um homem
“virtuoso” e “solidário”, cujo engajamento político não está atrelado à busca do
cumprimento de um projeto pessoal de poder, mas ao atendimento, em primeiro lugar,
das demandas advindas da população, pela qual julga que pode fazer algo de bom. Em