Ao longo das últimas três décadas, tornou-se um lugar-comum a afirmação de
que o trabalho está em crise. As altas taxas de desemprego, acompanhadas pela
precarização do trabalho e das relações trabalhistas são fenômenos apontados por uma
série de autores (Antunes, 2005; Castel, 1998).
A sociedade do pleno emprego, esperada pelos países centrais do capitalismo no
pós-guerra, desmoronou com a crise dos anos 1970 e, hoje, aparece não como uma
utopia perdida, mas como uma idéia anacrônica frente ao desemprego estrutural que, se
não foi deliberadamente produzido, é, de todo modo, funcional à organização neoliberal
da economia globalizada do fim do século XX e começo do XXI (Anderson, 1995).
O discurso sobre qualificação e capacitação profissional, forte nos anos 1970,
hoje dá lugar à idéia de “competência”, misto de capacidades profissionais e
características pessoais que seriam adequadas para o trabalho. Esta noção é
problemática e parece apenas evidenciar a situação de insegurança e falta de referências
estáveis na qual está posto o trabalhador (Kuenzer, 2007).
Frente a este cenário, surgem perguntas sobre o papel da escola e da formação
que oferece. Como a instituição escolar se posiciona frente às transformações no mundo
do trabalho?
Trabalho e educação: circunscrição e desenvolvimento do campo.
A maior parte da bibliografia que trata da relação entre trabalho e educação no
Brasil está assentada na sociologia e na economia da educação assim como, em parte, na
psicologia. Santos (2008) mostra como o campo de estudos sobre esta temática se
configura nos anos 1970 como uma crítica à teoria do capital humano, dominante até
então, a partir de duas vertentes. De um lado, o reprodutivismo francês de autores como
Bourdieu, Passeron, Establet, Althusser e, de outro, a introdução do referencial
marxiano na pesquisa em educação.
Se o reprodutivismo enxergava a escola como espaço de perpetuação das
relações sociais dominantes, o referencial marxiano incorpora tais críticas, mas chama a
atenção para as contradições que marcam as relações educacionais e para a
possibilidade da irrupção do novo em meio à reprodução do status quo.
Nos anos 1980, as pesquisas mantêm uma referência forte às leituras de Marx,
mas apresentam, ao mesmo tempo, novos aportes teóricos, especialmente a sociologia