ARTIGO
Polifonias da História:
entre telas e arquivos
A ideia de que a His-
tória é algo morto e aca-
bado segue vigente no
senso comum e não dei-
xa de ser reafirmada pela
indústria cultural, aí in-
cluídos os jogos eletrôni-
cos, com sua insistência
nos aspectos anedóticos
ou curiosos de eventos,
personagens e períodos.
O fato é que esse tipo de
narrativa, ancoradana li-
nearidade e que fornece
uma única possibilidade
de apreensão, é seduto-
ra e conta com público
bastante fiel. Basta ob-
servar a programação
dos canais pagos, com
as infindáveis séries de
biografias, as descober-
tas e desvendamentos de
segredos do passado, ou
o exemplo mais acaba-
do, o History Channel,
integralmente dedicado
à temática.
É certo que o passado
Reitor:
Julio Cezar Durigan
Diretor:
Ivan Esperança Rocha
Vice-Diretor:
Ana Maria Rodrigues de Carvalho
Coordenação:
Cláudia Valéria Penavel Binato
Edição:
Equipe do JNC
Textos e Reportagens:
Camila Natália, Marcelo Henrique, Mayara Pavanato, Rosilene Martins.
Revisão:
Cláudia Binato
Diagramação:
Mayara Pavanato
Colaboração Técnica:
Lucas Lutti
Esta é uma publicação da Faculdade de Ciências e Letras de Assis, Núcleo Integrado de Comunicação. Comentários, dúvidas ou sugestões, entre em contato pelo e-mail:
Expediente
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dos historiadores, pelo
menos à primeira vista, é
menos glamuroso, uma
vez que envolve debates
interpretativos, está su-
jeito a revisões, é passível
de apropriações eusos os
mais diversos, o impli-
ca num saber mutável e
sempre em transforma-
ção. Aliás, não é demais
afirmar que cada gera-
ção reescreve a História
a partir de seus próprios
desafios e dilemas, que
desempenham
papel
central nas releituras das
experiências anteriores.
É por essa razão que
vestígios do passado, an-
tes esquecidos ou pouco
valorizados, podem as-
sumir novos sentidos, a
exemplo dos pequenos
jornais e revistas produ-
zidos pelos imigrantes
queparacásedirigirama
partir da crise do regime
de trabalho escravo, em
fins do século XIX. No
Brasil, a Unesp é sede da
Rede transnacional para
o estudo da imprensa
em língua estrangeira
(séculos XVIII-XX), que
reúne pesquisadores dos
mais diversos países e
tem por meta discutir
os efeitos dessa presen-
ça, sempre esquecida, na
história das imprensas
nacionais. A imigração é
um fenômeno transna-
cional, que implicou no
deslocamento de milha-
res de pessoas, a maioria
delas em busca de me-
lhores oportunidades de
vida e trabalho, sem es-
quecer os que fugiam de
perseguições políticas,
conflitos e guerras.
Revisitar esses im-
pressos, produtos arte-
sanais, sem periodicida-
de fixa e que, em grande
parte, não se destinavam
ao mercado, é um desa-
fio. No momento de sua
edição, não chamavam
a atenção de instituições
e bibliotecas, razão pela
qual é diminuta a sua
presença em acervos,
ao que se soma, ainda,
o fato de não se contar
com levantamentos sis-
temáticos do que restou.
Contudo, esses pa-
péis frágeis e amareleci-
dos pelo tempo podem
contribuir de maneira
importante para que se
compreenda a circula-
ção de pessoas, ideias,
hábitos e costumes, afi-
nal, a chegada ao novo
país não implicava o
apagamento da cultura
e dos valores de origem,
daí ser fecundo traba-
lhar com as noções de
transferência
cultural
e de mestiçagem, num
esforço para lançar um
olhar mais amplo sobre
a imprensa em língua
estrangeira e sua cir-
culação no Brasil e no
mundo em perspectiva
comparativa.
A chance de um pro-
jeto como este interessar
aos meios de comuni-
cação de massa parece
bem remota, entretanto
o estudo poderá ampliar
nosso conhecimento so-
bre as experiências e as
vivências daqueles que,
pelos motivos os mais
diversos, abandonaram
seu país de origem e
empenharam-se na pro-
dução de impressos pe-
riódicos nos lugares de
destino.
*Profª Tania Regina de Luca
Docente do Departamento
de História - UNESP/Assis
Nosso
Câmpus
ago/set 2014