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RESSANTO era o
sobrenome de Antonio que chegou a Schio aos 11 de novembro de 1870, exatamente no dia que
lá se comemora São Martinho, data em que se encerravam os contratos entre os
proprietários fundiários e os trabalhadores que lhes prestavam serviços na zona rural
do Vêneto.
aquela data, as famílias deveriam retirar-se da propriedade agrícola em
que se encontravam e procurar novas paragens para se estabelecerem, quer em outras terras
ou, como no caso desta, em algum vilarejo ou cidade da região para tornarem-se
progressivamente proletárias, destino de tanta gente que viveu aquele período da
história italiana.
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Irene
Zanon e Antonio Pressanto em foto do início do séc. XX.
Fonte: Acervo da família MARCHIORO |
patriarca, Antonio, nascera em Arzignano, na província de Vicenza, aos 9 de
maio de 1852. Era filho de Girolamo e de Maria Martini. Ao mudar-se para Schio, ainda
solteiro, passaria a trabalhar como operário têxtil, muito provavelmente no Lanifício
Rossi.
onheceu sua mulher, Irene Zanon, e aos 8 de setembro de 1878, ambos
casar-se-iam em Schio. Irene, filha de Gaetano e de Lucia De Munari, era dona de casa. Ela
havia nascido nessa mesma cidade, aos 29 de outubro de 1858. O casal teria quatro filhos,
todos viveram, segundo os registros do cartório de Schio, onde nasceram. Maria
Argenide era a filha mais velha, nascida aos 12 de outubro de 1879; Angela Lucia, a
segunda, nascera aos 2 de janeiro de 1883; Girolamo Gaetano, o terceiro, nascera aos
25 de junho de 1885 e o, então, filho caçula Gaetano, que nasceu aos 27 de setembro de
1887. A fotografia abaixo mostra as duas filhas mais velhas, nascidas na Itália, e um
filho, Aldemir, nascido já no Brasil.
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Da
esquerda para a direita: Maria Argenide, Aldemir (nascido, depois, no Brasil) e Angela
Lucia, filhos do casal Irene e Antonio Pressanto, em Videira (SC). Fonte: Acervo da família MARCHIORO |
família dos PRESSANTO(s) habitariam, ao
longo dos 21 anos vividos em Schio várias moradias. A primeira localizava-se na Via
Arete, 79; a segunda na Praça (provavelmente o antigo Corobbo), 59; a terceira na Via
Palestro (hoje, Pasubio), 444, região de forte concentração operária e perto da
maior unidade fabril do Lanifício Rossi; a quarta de novo na mesma casa da Via
Arete, 79; a quinta morada ficava na Via Croce, 150-A; e por último, antes de embarcarem
para o Brasil, uma outra casa, a sexta, na mesma rua sob o número 513-A.
stá registrado nos
arquivos do Servizio Demografico di Schio que eles saíram daquela cidade rumo ao Brasil,
em 1891. Como tantos, podem ter seguido em trem ou em carroça pela planície do rio Pó
e, finalmente, embarcado no porto Gênova, num dos tantos vapores que faziam a rota em
direção aos continentes meridionais. Não se conhece o porto de desembarque, nem o
destino primeiro da família. É provável que tenha desembarcado no porto gaúcho do Rio
Grande, seguindo, logo depois, para instalar-se no Município de Caçador, no Estado de
Santa Catarina, para, posteriormente, fixar-se em Videira, outro município catarinense.
Nesta cidade, a família de origem operária chegou a construir uma cervejaria e, assim,
sofreu, progressivamente, um sensível processo de ascenção social. Entretanto, parece
que nem todos os parentes tiveram o mesmo destino. Uma parte dos PRESSANTO(s)
seguiu outro rumo.
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Casa
atribuída a Irene Zanon em Schio, foto do final do séc. XIX.
Fonte: Acervo da família MARCHIORO |
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Antonio Pressanto com o neto
Afonso em Videira (SC), no início do séc. XX.
Fonte: Acervo da família MARCHIORO |
ngela Lucia, a segunda filha da família, casar-se-ia, aos 14
de outubro de 1902, no Município de Feliz (RS) com um outro imigrante originário de
Schio, de nome Giovanni Marchioro, que, por sua vez, havia chegado ao Brasil aos 20 de
junho de 1888, com apenas 7 anos de idade, acompanhando sua família. Pela data de chegada
é bem provável que tenham se dirigido à zona rural. Consta na certidão de casamento
que ambos residiam naquele município no momento das núpcias.
m outro registro civil, emitido na cidade de Videira (SC) e
datado de 21 de outubro de 1933, descreve o casamento do filho de Angela Lucia, Afonso
Antonio (Marchioro), nascido aos 6 de janeiro de 1903, no Município de Júlio de
Castilhos (RS). A noiva, Santa Pasqualetto, nascida aos 12 de dezembro de 1910, residia,
contudo, no município catarinense.
m 1937, essa vertente da família PRESSANTO
vamos encontrá-la pela primeira vez em Galópolis,
graças a um registro de trabalho. No primeiro dia de abril de 1929, Giovanni Marchioro
empregava-se, aos 48 anos de idade, no quadro de operários do Lanifício "São Pedro", fundado por
imigrantes de Schio no final do séc. XIX. Fazia o percurso inverso dos demais membros da
família, voltando, ou quem sabe continuando no mundo dos trabalhadores explorados pela
lógica do capital. O fato revela, em mais esta história de vida, o quanto os
proletários de Schio, onde quer que se encontrassem, permaneceriam por muito tempo atados
à condição operária, a mesma que, um dia, os expulsou da Itália.
uando estivemos no Sul para
pesquisar, encontramo-nos com Antonio Marchioro, filho caçula de Afonso e Santa
Pasqualetto, neto de Angela Lucia e Giovanni e bisneto de Irene e Antonio PRESSANTO, o patriarca homônimo. Nascido também em Videira, aos 3 de
abril de 1944, vive, atualmente com sua família no distrito de Galópolis. Estudou o Ensino Fundamental no "Colégio Ismael Chaves Barcellos"; o
Médio no "Ginásio Particular de Galópolis" e freqüentou o curso de
Contabilidade no "Colégio Nossa Senhora do Carmo". E, por força, talvez, daquele destino que orientou a vida de
seus antepassados, tornou-se também ele um operário da mesma tecelagem na qual os
primeiros imigrantes de Schio haviam dado início. Aos 17 anos, foi
admitido no setor de Apresto e, a partir daí, aprendeu a trabalhar com toda maquinaria
utilizada pela fábrica. Freqüentou, também, inúmeros cursos de aperfeiçoamento
profissional. Durante um interregno, ingressou, profissionalmente, no time de futebol
"Grêmio Flamengo de Caxias do Sul", onde jogou até o ano de 1971. Voltou à
fábrica, a partir de 1972 e aí permaneceu. Em 1989, foi eleito por seus colegas de
fábrica como "Operário-Padrão do Ano" de Caxias do Sul.
estacando-se no, então,
Lanifício Sehbe, como operário padrão e tornando-se, desde pequeno, um exímio jogador
de futebol, Antonio Marchioro, hoje aposentado, continua a buscar o sentido de sua
existência. Sobre ele foi escrito que: [Caxias do Sul (RS) - Capacidade
Técnico Profissional:] (...) é um funcionário que se destaca dentre os demais.
Homem íntegro e de elevado espírito de coleguismo, com muita responsabilidade, nunca se
recusou a prestar serviços a Empresa, mesmo que estes venham a lhe afastar de sua
família nos momentos destinados ao seu lazer. Seu espírito criativo e de interação com
seus colegas e chefias demonstra suas características. (...) é uma pessoa que
cresceu dentro da Empresa. Hoje, como Técnico de Segurança, desenvolve a atividade com
toda a responsabilidade, pois está consciente de sua função de proteger e salvar a vida
humana. (...) Parecer da Diretoria: (...) é uma pessoa que se destaca,
entre as demais, pelos seus dotes, pelo seu espírito de liderança, companheirismo e por
sua bagagem de conhecimentos que adquiriu ao longo de todos estes anos de trabalho. Estes
conhecimentos, não foram somente adquiridos, como também transmitidos, pois sempre teve
a responsabilidade de criar, remodelar e organizar métodos de trabalho e repassá-los,
aos demais, para que os mesmos continuassem a desenvolver o trabalho por ele realizado. (Fonte: Concurso Operário - Padrão: 1989, 30.06.1989).
inda, na imprensa desportiva: Natural de
Videira, Santa Catarina, Antônio Marchioro veio ainda criança para Caxias do Sul. Bem
cedo já pintava como um futuro "craque" e conseguiu ser titular do Ismael
Chaves aos dez anos de idade. Um moleque entre os grandes, mostrando todo o seu talento
numa equipe que se tornaria o símbolo do futebol de Galópolis em todos os tempos. (Fonte: Pioneiro de Domingo
Esporte, sd)
eu testemunho é importante porque não esqueceu suas raízes
e, para tanto, tem-se dedicado com esforço incomum à pesquisa, indo a fundo no resgate
da história de sua família imigrante. Possui um imenso e invejável acervo fotográfico,
do qual nos beneficiamos, e continua a investigar, incessantemente, os documentos e os
relatos dos seus ascendentes, ainda, vivos. Por isso, mereceu aqui esta menção especial. |
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