Faculdade de Ciências e Letras de Assis (1958-2008) 50 anos. Por que comemorar?
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Com o distanciamento que o tempo permite, hoje podemos
olhar de outra maneira para aquela situação de contraste e estra-
nhamento, sobretudo com a implantação de um curso num lugar
no qual parecia um ser extraterrestre. As diferenças, os contrastes,
mesmo os conflitos eram salutares para ambas as partes. Faziam
ambas se reconhecerem, pelo espelhamento invertido de uma na
outra, aquilo que as distinguiam, que lhes faziam singulares e por-
tadoras de uma história e de uma identidade. A convivência atrita-
da, no fundo, era uma importante força de dinamização e mudança
para os dois lados que, com isso, não podiam recolher-se na mesmi-
ce narcisista e imobilizadora da própria imagem.
Passados cinquenta anos, o
apartheid
arrefeceu, dissipou
-
se junto com tantas outras fronteiras tão bem demarcadas nessa
época e que se tornaram mais permeáveis ou se diluíram completa-
mente. A micro-história das relações da Faculdade com a cidade de
Assis parece ter acompanhado a história geral. As forças que antes
se opunham ferrenhamente no campo político, econômico e cultu-
ral se aproximaram, passaram a conviver de forma pacífica ou se
mesclaram num autêntico pastiche pós-moderno. Se a guerra fria,
expressão maior de um mundo dividido e em conflito, não era uma
situação desejável, também não é inteiramente satisfatória a atu-
al frigidez de um cenário de paz e entendimento, que mais parece
fruto de uma impotência para o enfrentamento da dominação e da
injustiça do que de uma efetiva superação dos atritos que antes se-
paravam os oponentes.
No microcosmo local, não existem mais marcos de diferen-
ciação significativos entre a comunidade assisense e a comunida-
de universitária. Curiosamente, a expansão urbana fez com que o
campus universitário, antes praticamente fora do perímetro urba-
no, fosse completamente incorporado à paisagem e ao cenário da
cidade. A aproximação física foi acompanhada da aproximação em
outras esferas. A cidade, antes fria e precavida com os novos foras-
teiros que a cada ano nela desembarcavam como estudantes, agora
