Page 37 - A trajetória da Faculdade de Ciências e Letras de Assis nos desafios educacionais do ensino superior: entre o passado e o futuro

Faculdade de Ciências e Letras de Assis (1958-2008) 50 anos. Por que comemorar?
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subjetividade aos problemas sociais e às novas propostas artísticas
ou literárias. No final da década de 70, enfim, foram oferecidos os
primeiros cursos de pós-graduação em História e Letras. O ajuste
do campus à universidade ocorria progressivamente, com as marcas
do passado e os atropelos do presente.
O fato é que a criação da nova Universidade ocorria num
cenário nacional e internacional marcado por aceleradas mudanças,
nem sempre compreendidas no calor da hora pela comunidade aca-
dêmica. Hobsbawn designou a época como de “desmoronamento
da era do ouro, ou como as décadas de crise de 1970 e 1980”. Tal
cenário atingiu a UNESP e o ensino público brasileiro fundamen-
tal, médio e superior de ponta a ponta, sobretudo desde os anos 80,
a nossa chamada década perdida. Segundo o historiador, embo-
ra o capitalismo se mantivesse em expansão no período, algumas
transformações estruturais mudavam sua face: o grande avanço
tecnológico que dispensou milhões de seres humanos dos empre-
gos; a competição global desenfreada; a exigência de especialização
e qualificação permanente para as novas profissões com postos de
trabalho restritos; o aperto financeiro dos governos e a adoção das
políticas neoliberais; a desoneração do Estado como empregador
de último recurso e a consequente transferência dessa função para
as empresas; a reconfiguração do universo dos saberes clássicos em
tecnociências
*
.
O efeito dessas mudanças na educação brasileira foi extre-
mamente grave, na medida em que alcançávamos a massificação do
ensino primário e secundário, com a decorrente pressão de amplos
contingentes da população, não só os das camadas médias, para a
entrada no ensino superior. Desde então, o Estado brasileiro dimi-
nuiria drasticamente seus investimentos no ensino público de todos
os níveis, o que redundou na rápida decadência e decrepitude das
escolas oficiais do ensino primário e secundário, na desvalorização
dos professores e na crise financeira que se abateria de forma per-
*
HOBSBAWM, Eric. Idem, p. 393-420.