Page 173 - A trajetória da Faculdade de Ciências e Letras de Assis nos desafios educacionais do ensino superior: entre o passado e o futuro

Faculdade de Ciências e Letras de Assis (1958-2008) 50 anos. Por que comemorar?
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No futuro, quando se fizerem estudos mais detalhados so-
bre a estrutura e a função dos grandes encontros literários que se
deram neste país depois da 2ª Grande Guerra, não duvido que o 2º
Congresso de Assis ocupe lugar de destaque, sobretudo por causa
dessa indiscutível inclinação abrasileirante de seus trabalhos, sem
prejuízo de outros. E se alguém se enfadar ou se espantar com essa
percepção abrasileirante da reunião, talvez fosse o caso de espantar
ainda mais ou de atenuar a afirmação, como queiram, dizendo que o
que se escondia por trás da proposta era, mais que o Brasil, o desejo
discreto de colocar a lusofonia no centro da roda. Ou, em palavras
menos sinuosas, como beneficiar as duas maiores literaturas de lín-
gua portuguesa daquele então das mais modernas técnicas de análi-
se em curso na Teoria Literária vigente. Como proposta geral, não
disfarçava essa dupla a mira levemente nacionalista do Congresso,
apesar [em que pese a] da maldição que sobre esse substantivo pesa,
por alguns tomado como acinte. Se não for do agrado, no entanto,
podemos atenuar: Candido e Sena não disfarçavam a atualização
crítica, hermenêutica e histórica da “lusofonia”, termo que só veio
a figurar bem mais tarde no nosso vocabulário técnico. No residua-
lismo técnico de um “New Criticism” ou de uma “Estilística espa-
nhola” ainda em voga, essa atitude crítica tinha seus motivos.
Porque, ao percorrer seus
Anais,
súmula e suco dessa reu-
nião profissional, verificamos que, depois das discussões de caráter
teórico e acadêmico, abre-se espaço para um outro tipo de discussão
e que bem pode ser o sinal de uma mentalidade nova que se erguia,
já no começo dos anos ‘60, para apontar rumos alternativos para o
ensino das Humanidades, em geral; das Letras, em particular; e da
Universidade, como instituição de ensino. Porque é nessas últimas
páginas que vemos os congressistas preocupados com os rumos que
poderia e deveria tomar o ensino superior de literatura: se mera-
mente informativo e ainda herdeiro de tradição erudita ou se volta-
do também para a formação de quadros adequados às necessidades
do ensino médio brasileiro.