Page 106 - A trajetória da Faculdade de Ciências e Letras de Assis nos desafios educacionais do ensino superior: entre o passado e o futuro

Faculdade de Ciências e Letras de Assis (1958-2008) 50 anos. Por que comemorar?
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disputas de poder e por imposição e arbítrios de interesses corpo-
rativistas e até mesmo nepotistas. Houve época em que, a despeito
de sua importância, a Psicologia era vista e tratada no
campus
com
bastante parcimônia e avareza, como filha renegada, como antro de
estrangeiros esquisitos e problemáticos que não aderiam e resistiam
às práticas e aos costumes locais. Era comum as chefias do Depar-
tamento terem que aguardar, humilhantemente na sala de espera
do Diretor, uma mísera entrevista, agendada com bastante antece-
dência, para tratar de assuntos pertinentes ao Curso. Contratações
de docentes e funcionários para o Curso foram vítimas de práticas
autoritárias de gestão que não relutavam em fazer uso do poder para
favorecer membros de famílias da elite local, sempre prontas a am-
pliar seus domínios e suas posses, abocanhando nacos do patrimô-
nio público.
Se a árdua luta pela democratização da universidade se di-
luiu em escrutínios eleitorais legitimadores de forças e grupos he-
gemônicos assentados na cúpula da sua administração, é inegável
que o jogo político, hoje, é mais aberto e que há pouco espaço para
gestões baseadas no arbítrio e na unilateralidade.
É inegável também que, a despeito de a psicologia ter se fir-
mado como um saber especialista, prestando-se a mecanismos de
controle e dominação mais sofisticados do que a simples coerção,
mesmo assim, se desfez de práticas ainda mais autoritárias e subju-
gadoras que tinham o outro como mero objeto. Especialmente em
Assis, a forte vinculação da psicologia às ciências humanas e sociais
contribuiu para se tentar, insistentemente, fazer de sua produção de
conhecimento e de suas tecnologias instrumentos de emancipação
de sua clientela e do próprio psicólogo.
Nesse sentido, é necessário citar, como exemplo, a impor-
tância desse Curso nos rumos das políticas locais de saúde men-
tal. Durante muito tempo, ao longo das décadas de 70 e 80, houve
na cidade uma forte campanha para a construção de um hospital
psiquiátrico, deflagrada por algumas instituições e forças políticas