ARTIGO
Ciclo de Cinema Alemão: Fassbinder
Fassbinder e o cinema da pós-utopia
Em setembro aconteceu
na Faculdade de Ciências
e Letras – Campus de Assis
um Ciclo de Cinema Alemão
sobre o diretor alemão Fas-
Da chamada “santíssi-
ma trindade” do Novo Ci-
nema Alemão, Fassbinder
é o mais estreitamente
ligado ao dia a dia da Ale-
manha Federal. Diferente-
mente de Wim Wenders e
Werner Herzog, ele nunca
tentou ultrapassar os li-
mites da Europa Central
em termos de produção.
De seus filmes, “O casa-
mento de Maria Braun” e
“
Lili Marleen”, excepcio-
nalmente, conquistaram
um público mais amplo
fora de seu país. E ele não
viu realizado o sonho de
conquistar os três princi-
pais prêmios do cinema: o
Leão de Ouro, a Palma de
Ouro e o Oscar.
Nascido
em
Bad
Wörishofen em 31 de ju-
nho de 1945, poucas se-
manas depois do térmi-
no da guerra, Fassbinder
chegaria à idade adulta
no agitado final dos anos
1960,
para se tornar o
cineasta da pós-utopia.
Com o fracasso das aspi-
rações libertárias de 68,
o país viveria convulsões
político-sociais,
sobre-
tudo em razão do terro-
rismo urbano. (Quando
cheguei à Alemanha, em
1975,
as rádios insistiam:
“
Cuidado! O vizinho ao
lado pode ser um terroris-
ta!”)
Prematuramente desa-
parecido em 1982, o cine-
asta deixava uma obra es-
pantosa pela extensão e
pela qualidade. Terá reali-
zado um filme a cada 100
Reitor:
Herman Jacobus Cornelis Voorwald
Vice-Reitor em exercício:
Julio Cezar Durigan
Diretor:
Ivan Esperança Rocha
Vice-Diretor:
Ana Maria Rodrigues de Carvalho
Coordenação:
Áureo Buseto; Cláudia Valéria Penavel Binato
Edição:
Cláudia Valéria Penavel Binato
Textos e Reportagens:
Mayara Crispim; Mayara Pavanato; Nayana Camoleze
(
MTB - 47252/SP)
Revisão:
Cláudia Binato; Eliane Aparecida Ribeiro Galvão Ferreira
Diagramação:
Mayara Crispim; Mayara Pavanato
Colaboração Técnica:
Lucas Lutti; Seção Técnica de Informática
Esta é uma publicação da Faculdade de Ciências e Letras de Assis, Núcleo Inte-
grado de Comunicação. Comentários, dúvidas ou sugestões, entre em contato
pelo e-mail:
Expediente
2
Nosso
Câmpus
setembro/2012
sbinder. Seis Filmes e um
debate foram realizados. O
público foi composto basi-
camente por intelectuais e
estudantes, que discutiram
a obra de um dos mais polê-
micos cineastas de todos os
tempos. Entre os debatedo-
res estiveram o responsável
pela programação de cine-
ma nas bibliotecas muni-
cipais de São Paulo, Daniel
Ifanger e o Dr. José Pedro
Antunes, tradutor e profes-
sor da Unesp de Araraqua-
ra. A promoção foi do Depar-
tamento de Letras Modernas
e a execução dos professores
de alemão. Abaixo um artigo
decorrente do evento.
dias. Dos 200 dias pre-
vistos para a rodagem de
“
Berlin Alexanderplatz”,
145
haviam bastado.
Em “Quarto 666”, filme
idealizado por Wim Wen-
ders em maio de 1982,
ano em que Cannes respi-
rava uma atmosfera de ci-
nema em crise, cineastas
foram instados a falar so-
bre os rumos de sua arte.
Em uma de suas derradei-
ras aparições, Fassbinder
se mostra cansado e pou-
co otimista em seu prog-
nóstico.
Para Wenders, ele mor-
reu de trabalhar, pois tra-
balhava 24 horas por dia.
Sobre o desaparecimento
daquela referência para
sua geração, o cineasta
declara:
“
Desde a morte
de Fassbinder, vivemos,
nós todos, com essa per-
da, que não quer diminuir.
Ao contrário: sentimos
falta também dos filmes
que ele teria rodado.”
O próprio Fassbinder
tentava entender e expli-
car sua enorme capacida-
de de trabalho:
“
Que eu
faça mais do que os ou-
tros, é algo que eu mesmo
só posso entender como
uma espécie de enfermi-
dade, ou a tentativa de
lidar com essa enfermi-
dade, uma espécie de en-
fermidade psíquica.”
Num
lapso de 15 anos, realizou
43
longas e 2 curtas, ten-
do atuado em boa par-
te deles. É extensa tam-
bém sua folha de serviços
prestados ao teatro, como
ator, autor e diretor.
Sem conseguir ser
aceito inicialmente no
meio cinematográfico, foi
no teatro que ele acabou
não apenas encontrando
a oportunidade de exerci-
tar seus múltiplos talentos
como também de definir
as linhas mestras do que
viria a ser o seu cinema.
No Action-Theater e no
‘
antiteater’, em Munique,
ele aprendeu a liberdade
das vanguardas teatrais.
Numa foto dessa época,
ei-lo rodeado por atores
e atrizes que depois esta-
riam com ele na tela. Vêm
certamente do teatro a
necessidade do trabalho
em grupo, o ritmo, a car-
pintaria e a concepção de
grande parte de sua pro-
dução cinematográfica.
Sua estreia se deu com
dois curtas: “Der Stadts-
treicher” (1966) e “Das
kleine Chaos” (1967).
Considere-se que o Ma-
nifesto de Oberhausen
é 1962 e que Alexander
Kluge realizou em 1966
aquele que é considerado
o marco inicial do Novo
Cinema Alemão: “Despe-
dida de Ontem”. De par
com as novas diretrizes
estéticas, deixando para
trás um cinema divorcia-
do da realidade imediata,
predominantemente kits-
ch, criavam-se as condi-
ções para o surgimento
de um cinema de autor,
apenas possível com sub-
venções estatais e com
escolas de cinema inde-
pendentes.
É nesse quadro que se
situa a obra de Fassbin-
der. Ele como que perso-
nificava o Novo Cinema
Alemão. Sua morte, como
ele parece prenunciar em
“
Quarto 666”, seria o pon-
to final de um intensamen-
te criativo período de 15
anos.
Sobre sua importância
para a cultura alemã, o ator
Armin Müller-Stahl aposta
bem alto:
“
As pessoas não
se cansam de me pergun-
tar por Rainer Werner Fas-
sbinder nos EUA, onde ele
é citado de um só fôlego
com Thomas Mann e Franz
Kafka. E nós já vamos che-
gando ao ponto de situá-lo
ao lado de ambos.”
*
Dr. José Pedro Antunes –
UNESP/FCL/Araraquara