Page 231 - A trajetória da Faculdade de Ciências e Letras de Assis nos desafios educacionais do ensino superior: entre o passado e o futuro

por sonhar em ser poeta, acabei por alistar-me num curso de Letras
para deixar de ser poeta e me tornar professor. Ao fim, sem que
desse muito por isso, de menino que sonhava no clube da esquina,
de poeta de imprensa nanica, eis-me tornadoVice-Diretor.
Tínhamos, o Diretor João Chaves, eu e toda uma equipe as-
sessora, um projeto, um plano de gestão, cuja diretriz fundamental
era favorecer e incentivar a participação direta de alunos, professo-
res e funcionários na administração da Unidade, a começar pela dis-
cussão da prioridade de gastos com o orçamento local. Abrimos as
portas da Direção, quebramos o protocolo das agendas, dispusemo-
nos a conversar, a escutar, a refletir, a compreender e encaminhar os
reclamos, as pressões, os pedidos, as reivindicações.
Tive dois problemas sérios de saúde, muitas decepções com
a espécie humana e com as possibilidades reais da vida em socieda-
de. Indignava-me que nós, vivendo numa comunidade tão restrita,
de pouco mais de 1.500 pessoas, imbuídos de um ideal tão mag-
nânimo quanto à disseminação do conhecimento, vivêssemos a nos
desentender e a nos dividir. Na verdade, esse desalento nada mais
era do que sintoma da minha ingenuidade sendo colocada em xe-
que pela realidade. As instituições humanas não são simplesmente
complicadas; elas são complexas, exatamente porque são fruto des-
se ser tão complexo que é o homem, “bicho [como diz Camões] da
terra tão pequeno”.
Não devemos ser nós a julgarmos os erros e os acertos do que
fizemos durante os quatro anos em que estivemos no cargo repre-
sentativo para o qual nos elegeram. No que me diz respeito, como
Vice-Diretor, a quem são principalmente delegadas as responsabi-
lidades de organização das atividades culturais, orgulho-me muito
de ter realizado, juntamente com meu amigo Sivaldo Camargo, no
Saguão do Prédio I, a última exposição das pinturas de Ranchinho.
Ele, infelizmente, morreria logo depois; ele que, muitas vezes, em
épocas distintas, pintou várias telas sobre a Faculdade.
As últimas dessas telas foram feitas naquele ano de 2002,
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Faculdade de Ciências e Letras de Assis (1958-2008) 50 anos. Por que comemorar?