Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 644

Foucault não escreveu
. Talvez tentando ser agradável, o jornalista mostra pouco
conhecimento sobre questões concernentes ao livro e extrapola nas invenções – inventa
aquilo que lê – descreve elementos que não figuram no texto, inventa obras com as
quais compara o livro e até obras que Foucault não escreveu. (
idem
,
ibidem
, p. 322-325)
Seguramente, o exemplo que acabamos de expor apenas mostra-nos de maneira
pouco sólida os percursos de duas críticas observadas a partir das réplicas construídas pelo
autor criticado. Assumimos o exemplo pensando inicialmente em demonstrar que o crítico
institucionalmente autorizado (o professor, pela universidade; o jornalista, pela mídia) a
dizer algo sobre determinada obra não têm a garantia de obter sucesso. No entanto,
diferente da réplica política de debate, televisionada ao vivo aos telespectadores eleitores, o
crítico tem um prazo para pesquisar o que se pretende estabelecer como crítica ou como
réplica. A questão que surge é que não há fórmulas que descrevem “como se criticar com
êxito” tornando o ato de criticar como algo tomado de lógica, saber, competência, mas ao
mesmo tempo de subjetividade.
T. S. Eliot em defesa de James Joyce: a réplica do discurso crítico literário
Sob essa perspectiva de análise, examinamos também o artigo de T. S. Eliot,
Ulysse: Ordre et Mythe
, de 1923, publicado na
La Revue des Lettres Modernes
, em 1959
7
,
em que o autor faz uma árdua defesa dos escritos joycianos, utilizando-se também da
réplica:
As críticas endereçadas a
Ulysses
pelo Sr. Aldington há alguns anos, me parece pecar pela
mesma desatenção [
a
de não observar as particularidades da obra
], mas o Sr. Aldington
formulou-as antes da publicação da obra completa, sua falha é mais honrável que os ensaios
daqueles que tinham antes, o livro inteiro. O Sr. Aldington trata o Sr. Joyce de profeta do
caos (...). Um forte bom livro pode ter uma influência nefasta; um outro, medíocre, pode,
neste caso, ser dos mais salutares. (...) um homem de gênio deve prestar contas a seus pares
e não perante um grupo de imbecis sem disciplina nem cultura. Todavia, a patética
solicitude de M. Aldington, a respeito de simples espírito, me parece comportar certas
implicações sobre a natureza da obra (...). Se eu bem compreendi, o Sr. Aldington detém a
obra como um convite ao caos, uma expressão de sentimentos perversos e tendenciosos, e
uma desfiguração da realidade. (...) Que seja possível
difamar
a humanidade [
referência à
crítica de Aldington que diz: “sua obra
[a de Joyce]
repousa sobre um erro e constitui uma
difamação da humanidade”
] (...), este é um assunto controverso para os grupos de filósofos;
mas é evidente que se Ulysses constitui uma “difamação”, seria um documento forjado, um
7
CONFIGURATION CRITIQUE DE JAMES JOYCE I – PREMIÈRE PARTIE - TOME I. La Revue
des Lettres Modernes - Histoire des Idées et des Littératures. Paris:Lettres Modernes Minard, n
o
46-48,
vol. VI, 1959.
1...,634,635,636,637,638,639,640,641,642,643 645,646,647,648,649,650,651,652,653,654,...1290
Powered by FlippingBook