Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 623

inversão irônica do diálogo ideal que deveria ser mantido entre o progenitor, exemplo
de comportamento, e o rapaz, que se lança para a vida; ou seja, da
paideia
, como bem
apontou Montesini (2010).
A paródia que leva ao riso não deve, entretanto, escamotear o sentido do conto:
para triunfar na sociedade carioca oitocentista, é preciso usar máscaras, reprimir as
ideias, seguir a ideologia dominante.
Se o uso do termo “medalhão” e o teor paradoxal do discurso supõem um tom
de escárnio, convém, mais uma vez, não esgotar a leitura no seu efeito de riso
e paródia. Como o alienista, o medalhão traz em si o carisma da autoridade, é a
voz sempre igual da soberania e dos seus validos; e se o candidato ao galarim
da fama deve reprimir e suprimir afetos ou idéias espontâneas, é porque a vida
social média tampouco tolera que se mostre a cara por um minuto sequer. A
mascarada é séria. (BOSI, 1992, p. 94)
Servindo-se, portanto, de um discurso pertencente à ideologia oficial do
oitocentos; ou seja, aquela instituída pela hegemonia dominante, o pai sugere ao filho
que abandone seus ideais, anulando seus pensamentos e gostos, a fim de se tornar um
verdadeiro Medalhão.
Leitor de Dostoiévski, Rabelais e Cervantes, Machado de Assis aprendeu com os
mestres a arte de criar personagens, dando-lhes voz e identidade, ausentando-se de sua
obra, não se intrometendo em sua própria narrativa, como faziam Balzac e Victor Hugo.
Soube usar a ironia e o humor, estabelecendo diálogos com a sociedade de sua época e
com outros autores.
BIBLIOGRAFIA
ASSIS, Machado de.
Contos, uma antologia
. (org. John Gledson). São Paulo:
Companhia das Letras, 1998.
BAKHTINE, Mikhaïl.
La Poétique de Dostoiévski
. Paris: Seuil, 1970.
BOSI, Alfredo.
O enigma do olhar
. São Paulo: Ática, 1999.
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