Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 618

O conto foi objeto de excelentes estudos: em “Janjão e Maquiavel: a ‘Teoria do
Medalhão’”, Villaça (2008) aponta a profundidade dessas páginas machadianas que
levam o leitor a refletir acerca de um “quadro mais grave, mais dramático, no qual a
graça, sem desfazer-se completamente, dá presença a mazelas que entre nós já se
institucionalizaram” (p. 37). O pesquisador analisa a importância da alusão feita a
O
príncipe
de Maquiavel no final do conto, demonstrando que ela reforça os
procedimentos a serem adotados para se chegar ao poder.
Em “A Paideia inversa: ‘Teoria do Medalhão’ de Machado de Assis”, Montesini
(2010) estuda a intertextualidade estabelecida entre o conto e a Mitologia Clássica. Para
a pesquisadora, o conto representa uma inversão irônica da educação dos jovens na
Antiguidade Clássica, que primava pela
paideia
; ou seja, pela formação de um homem
ético, que vivesse e morresse com dignidade e honra, “sendo capaz de respeitar a si e ao
outro” (p. 334).
Os conselhos que o pai oferece a Janjão no dia de seu aniversário representam,
de fato, o oposto da ética, da dignidade e da honra. Ele não lhe passa valores morais,
mas lhe transmite uma fórmula para obter sucesso: “o meu desejo é que te faças grande
e ilustre, ou pelo menos, notável, que te levantes acima da obscuridade comum.”
(ASSIS: 1998. p. 328) Como é preciso, porém, ter um ofício “para a hipótese de que os
outros falhem”, aconselha-o a tornar-se “medalhão”.
O diálogo que se estabelece entre pai e filho é permeado de ironia e humor, pois
o progenitor faz um discurso aparentemente sábio, mas que, na realidade, é vazio e tolo,
levando a pensar nas noções de paródia e carnavalização de Bakhtin. Além disso, ao
construir seu conto em forma de diálogo, Machado de Assis transfere a palavra às
personagens, num cruzamento de vozes que poderia caracterizar a “Teoria do
Medalhão” como obra com características polifônicas.
“Embriões” de polifonia
Bakhtin desenvolveu a noção de polifonia a partir dos romances de Dostoiévski,
o criador do
romance polifônico
, um gênero romanesco novo, que não podia ser
enquadrado em nenhum esquema conhecido até então. O escritor russo, ao construir
suas personagens, teria colocado sua concepção filosófica em um segundo plano,
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