Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 613

claro que os interesses diversos, as expectativas e o universo vivencial dos jovens não
eram levados em conta no encaminhamento da leitura no âmbito escolar.
Para compreender tal fato e de alguma forma tentar contorná-lo, o amparo
encontrado veio de Arena (2003) e Foucambert (1997), uma vez que para ambos os
autores a leitura não é uma questão de interpretação semântica do texto, mas uma
questão de atribuição de sentido. Isto significa que o encaminhamento da leitura na
escola ou fora dela deve levar em conta o acervo cultural e o horizonte de interesses do
leitor. Portanto, a leitura como é tratada na escola, não em todas é claro, como prática
delimitada, padronizada, marcada pela prática tradicional de leitura do livro de literatura
para fazer prova sobre seu conteúdo deve ser revista. Destituída de sua função e
contexto sócio-histórico-cultural, a leitura é vista, pelos jovens, à distância, com algo
enfadonho e sem sentido. O contexto atual nos impele à reflexão sobre novas estratégias
de encaminhamento e novos métodos avaliativos, que devem ser pensados, também, no
terreno escolar.
Daí a estrutura teórica deste trabalho buscar sustentação na arquitetura
enunciativa da linguagem, de Bakhtin (2004). Pois, o princípio dialógico, conforme
proposto pelo autor, sustentou a maior parte das atividades realizadas na sala de leitura,
bem como se mostrou pertinente para o desencadeamento do ato de ler entre os
participantes.
Isto porque, para Bakhtin (2004), a verdadeira substância da língua e da
linguagem não é, de forma alguma, composta “por um sistema abstrato de formas
lingüísticas e nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico
de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal” (BAKHTIN, 2004,
p.123). Fenômeno este que é a essência primordial da língua e que se realiza por meio
da enunciação ou das enunciações.
Assim, quando falamos em diálogo, ressaltando sua relevância para formação
leitora, não nos referimos, exclusivamente, a sua modalidade face a face, mas ao
diálogo em seu sentido mais amplo, ou seja, a “toda comunicação verbal, de qualquer
tipo que seja” (BAKHTIN, 2004, p.123). Nessa perspectiva, para Bakhtin (2004), um
livro seria um ato de fala impresso, o qual, da mesma maneira, constitui um elemento da
comunicação verbal. Isto porque, ele “é objeto de discussões ativas sob a forma de
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